o normal em dias atuais

Falo por mim mas incluo todo mundo, tá?

A gente vai se acostumando com a vida na pandemia, com o uso de máscaras, em olhar as pessoas com desconfiança, em ter medo de tocar em qualquer coisa que possa estar contaminado, a comparar modelos de máscaras e até achar algumas interessantes, mesmo sendo todas estranhas, feias e impróprias para quem prefere respirar ar fresco e gosta de sorrir com os lábios. 

A gente passa a cuidar das nossas atividades, das nossas demandas pessoais, das próprias vidas, e de certo modo até a criar mais egoísmo, quando também passamos a esquecer dos que não conseguem sobreviver e dos que literalmente não resistiram à violência desse vírus, que mata muito mais do que imaginávamos que mataria aqui e no restante do mundo.

A gente pensava que era algo muito distante de nós. Que o controle dessa pandemia seria possível diante dos alardes que os cientistas divulgam dia após dia. Mas não é isso que está acontecendo.

A gente não se espanta tanto com os novos números diários de casos de covid e com as mais de 92 mil mortes no nosso país. Hoje no final da tarde esse dado já estará  desatualizado. E não vai causar estranheza estar ultrapassado. 

A gente acaba achando normal morrer tanta gente, porque é mesmo normal que haja muito mais mortes, numa epidemia sem vacina pronta e disponível, e o que é também muito grave, que estamos à deriva, pois não há no governo quem pense e cuide da saúde pública.  

A gente rapidamente ignora quem morreu, fica na torcida organizada para saber que a curva abaixou e que os hospitais reduziram suas taxas de ocupação e que toda a economia vai poder voltar a funcionar, mesmo diante da pobreza de muitos, da riqueza assustadora e descabida de poucos e das famílias destroçadas. 

E é também nesse momento que aceitamos os números como normais e nos desumanizamos, de novo.