3 October 2025

oi, sumida!

É, estou muito sumida né, filho?

Fico aqui entretida com o trabalho, com as obrigações, com a vida fora das telas e descubro o quão relapsa tenho sido contigo, mesmo tendo me declarado no seu aniversário! 

Sim, já estamos em outubro, na esquina para o Natal, para o ano novo. Logo vou montar minha árvore cheia de pisca-piscas, a mesma que me traz tantas lembranças boas e também aquelas que insisto em deixar na gaveta. 

De qualquer modo eu sigo. Sigo com minha fé em dias melhores, sigo atenta aos meus instintos, sigo obstinada em não repetir os mesmos erros, sigo esperançosa por novos acontecimentos que me arrebatem. 

O caminho está tranquilo. Alguns dias mais, outros médios. Olho sempre para o copo meio-cheio. Os vazios não me incomodam como antes. Acho que amadureci. Estou naquela fase que não é qualquer música que me deixa melancólica, nem qualquer saída que me atrai. O cinema tem me visto muito pouco. As séries turcas me animam a fazer pipoca e é tão bom ficar feliz com a minha própria companhia! Como eu amo sentir o ar mais leve, sem aquela apreensão que me sugava até eu ficar sem respirar direito.

Tenho dormido mais. Desisti dos treinos muito cedinho. Não gosto de sair da cama antes das 7h. Não gosto de correria, não gosto de pressão. 

A sua mãe não sumiu, não. Ela te deu asas e ganhou as novas asas dela. Deixa ela ser, do jeito que ela quiser. Deixa ela ser livre de verdade. O tempo da prisão passou mas ela ainda precisa sentir-se segura para não sentir mais medo de voar. Deixa ela simplesmente ser ela. Do jeitinho dela. Com saudade das luzes de Natal e com uma curiosidade grande pelo que vem a seguir. Ali, na próxima curva. 

21 August 2025

dezesseis+

Esse título é uma referência a uma música de Renato Russo, Dezesseis, e integra “A Tempestade ou o livro dos dias”, sétimo álbum de estúdio da Legião Urbana, lançado em 20 de setembro de 1996. Dezesseis é, sem dúvida, uma das suas canções mais tristes, entre tantas histórias cantadas por ele. O refrão com o lamento: "ele só tinha dezesseis" resume o quanto é doloroso constatar a partida de alguém tão jovem, com tanto por viver.
Você bem sabe, Mô blog, sempre misturo estações. E lá vou eu falando de morte, quando deveria estar celebrando sua vida, filho! Amanhã você completa 16 anos e eu queria te dizer que sempre fico muito feliz em comemorar seu novo ciclo! Agora você terá 16+! Logo a puberdade se despede e vai poder pousar de adulto! Quem sabe sua mãe aqui não te acompanha e deixa de vez os melodramas?
Comemorar na véspera não é legal, eu sei, mas dia 22 estarei em sala de aula e não vou conseguir parar pra escrever sobre você, para você, que nasceu e me completou como pessoa! A partir desse espaço me tornei uma blogueira. Te confesso que escrever com liberdade é o melhor dos mundos, do nosso mundinho aqui! 
E mais uma vez te parabenizo, por ser tão “de boas”, sempre disponível para mim, faça chuva ou faça sol. Sua lealdade, meu leonino e quase-virginiano, me deixa muito, muito à vontade para voltar aqui e blogar sempre que posso, sempre que me permito materializar meus pensamentos e sentimentos na escrita. 
Você continua me acalmando e me dando um prazer imenso de sempre retornar com mais afeto e mais respeito por essa nossa relação tão saudável que nutrimos,  entre o que sinto e o que escrevo, entre o dito e o não dito. Muito obrigada por ser meu par, meu parceiro de noites insones, dias estranhos ou mágicos. 
Que possamos completar muitas voltas ao redor do sol, dos mares, das marés. Que consigamos aprender mais e mais, atravessar pontes, dias, meses, anos, com toda essa força da escrita que me permite sentir. 
Gratidão me representa por ser eu a sua criadora! Cuidar de você é com certeza cuidar de mim. Enquanto a pulsão de escretver me habitar, você estará sempre alimentado e cheio de novidades, de bons escritos, memoráveis. É o meu desejo pra nós, que somos carne e unha, alma e coração. 


4 July 2025

o dia maior da saudade

Todo 4 de julho é muito triste, sombrio, chuvoso. Agora mesmo, enquanto escrevo, os céus estão aguando. Sua partida foi num dia 4 de julho, 7 anos atrás, em 2018. De lá pra cá tanta coisa (nos) aconteceu. Eu fico sempre na expectativa de que vai doer menos a sua ausência, mas isso não vai acontecer. Pelo visto eu vou sempre lamentar muito! Eu queria deixar de lembrar dessa data, mas também não consigo.. fujo dessa lembrança que dói, de ter perdido a sua presença física que tanto alegrava a mim, a todos ao seu redor! Você sempre será a minha irmãzinha que amava viajar e voltava cheia de histórias para me contar! Na verdade você tinha narrativas “e fortes emoções”, todos os dias, em dias bem comuns. Eu amava seus exageros! Mas reclamava! E você ria de mim. Quem mais vai me chamar de “Juju” com tanto amor?? Eu vou sempre sentir saudades! Por mais que eu tenha que aceitar que você partiu, eu não me conformo. Saudade, minha eterna amiga! Quanta saudade! Espero que esteja num lugar bem lindo, vendo a chuva chover com brilho nos olhos. ❤️ 

11 June 2025

querer é poder

O dia que antecede o 12. 

Eu ando muito reflexiva esses dias e isso não é o meu normal. Digo normal com cautela. Reflito sempre, mas tem muito tempo que venho seguindo no automático, fazendo tudo parecer razoavelmente dentro do que se espera para minha nova vida. Nova mesmo, porque afinal me mudei pra Salvador, em definitivo, mudei de universidade e fiz essas importantes mudanças com outras tantas bem pessoais. Tudo é novo em mim, inclusive o meu desejo pela novidade.

Quando eu penso em mudança, me lembro de muitas que já fiz: de apartamento, de cidade, de bairro, de prédio, até de um andar para o outro, dentro de um mesmo prédio. Em Portugal eu consegui a proeza de mudar de "morada", num mesmo quarteirão. Eu apenas atravessei a rua e arrastei malas de um lado pro outro. Essas mudanças são cansativas, cheiram caixas de papelão e bagunça. Cheiram também novos ares. Eu reclamo mas no fundo eu gosto, desse sentimento de renovação, que toda mudança de casa nos provoca. Estou até cogitando perder a preguiça e criar coragem para mudar de canto outra vez. Mas vou refletir mais sobre o assunto.

O dia de hoje me deixou reflexiva sobre outro tipo de mudança em mim. A mudança de perspectiva. Consegui o tão sonhado retorno para minha Bahia e para a minha cidade predileta no Brasil. Sonho alcançado. O que faço agora com o que alcancei? Qual é o novo sonho: me acomodo ou já posso sonhar outra coisa? O que a esquina logo ali me reserva? O futuro é tão previsível como o sinto agora? Não terei mais surpresas? Novos desafios? 

Na nova casa de trabalho, na minha nova "firma", não me sinto desafiada. Tudo o que vivi no semestre anterior me deu essa sensação de "mais do mesmo". Na pós-graduação também desconheço o que seja novidade. Me sinto quase perto de aposentar, sem aquele frio na barriga que era tão bom de sentir quando me lançava em algo que nunca havia feito. Tudo parece calmo, no lugar. Me sinto numa zona de conforto que não me parece confortável. Não gosto desse cenário ou apenas me acostumei a ter adrenalina o tempo todo?

As crises de poder e de vaidade me desencantam desde sempre. Não almejo cargos de gestão, não quero disputar nada com ninguém. Eu simplesmente acolho o que chega pra mim e tá tudo se encaixando: conspiro junto com o universo e o universo me presenteia com novas oportunidades para crescer e marcar meu nome na história. E sei que mereço pois além de comprometida eu trabalho muito. Nunca que alguém poderá dizer sobre mim: "para ela tudo é fácil, uma sortuda". Não mesmo. Nunca foi sorte.

Eu escrevo sobre mudanças que já acolhi, mas não há em mim o medo de novas mudanças. Talvez o desejo por novos desafios, por algo que eu me apaixone. No trabalho e na vida amorosa! Quero me apaixonar. 

É isso. Meu desejo é me apaixonar outra vez. 

E que a nova paixão seja recíproca, sem dor, sem pudor, sem medo, sem pé no freio, sem controle, com liberdade. Quero e posso sonhar com um novo projeto a 2. Por que não? E desejo esse novo tempo sem mágoas, sem desconfianças, sem tensões, sem ranços, sem despedidas. Quero me encantar de verdade. Desejo do fundo do meu coração ter de volta os meus olhos brilhando. 

26 May 2025

saudade de escrever

Parece algo óbvio. Você tem, ao seu dispor, sempre novas páginas em branco no editor de textos do computador, tem bloco de notas, tem agenda, tem inúmeras possibilidades de escrita. Você tem papel, tem caneta, tem até um blog. E por que não escreve mais? O que aconteceu nesse hiato de tempo? 

Bem, aconteceu muita coisa! Mas não é sobre o que aconteceu que quero escrever. Quero escrever sobre saudade, a saudade de escrever.

A escrita acadêmica é muito importante mas não é nem de longe agradável. Ver um texto publicado sim, é muito bom! Depois de tanto trabalho... ah, ver o que se escreve num livro, numa revista de qualidade ou num jornal... é infinitamente maravilhoso! É como se a materialidade do que se escreveu estivesse ali, guardada para sempre. 

O que se escreve, permanece. As palavras ditas voam, não retornam pra nós. Quando muito, recebemos outras palavras, e até contra o que dissemos em algum momento. Renato Russo musicou sobre isso, sobre o medo da dureza e da hostilidade da recepção sobre o que dizemos, para quem dizemos.

Mas aqui estou, escrevendo sobre escrever. Como é bom ver as palavras nascendo do meu pensamento e preenchendo vazios. Sim, quando escrevo me preencho. Me sinto munida de novos argumentos, me sinto motivada para ser melhor, ser diferente de antes do ato (de escrever). Mas não é simples, mesmo. Nem escrever ciência nem ficção. 

Escrever na primeira pessoa, então... é preciso ter coragem pra se expressar, pra se expor, e também não se importar como o que vão dizer do que você quer dizer. O problema da narrativa autobiográfica é sem dúvida essa mania perigosa que o outro tem de querer decifrar quem escreve. Não, nunca será possível descrever ninguém mesmo que o texto comece com um "eu sinto muito". Mas a gente sente tantas coisas! E sente diferente em tantos momentos, e até num mesmo momento. 

Não é legal ser vigiado, muito menos saudável ser monitorado. Eu bem sei o que é isso. Vivi isso na pele. Ainda me sinto sob vigilância. Eis o problema que me trava muitas vezes a espontaneidade de escrever. Mas vamos lá, mesmo com essa sensação incômoda que me trava, não é possível bloquear o meu desejo de ser livre. E escrever me liberta, de verdade. Deveria escrever muito mais. Deveria dedicar esse tempinho para os meus botões mais vezes. Deveria, deveria... tudo é ordem, não é? A pressão acaba por me tirar o prazer. Sentir-se pressionada por mim, principalmente.

Não, não vou escrever por pressão. Vou escrever quando tiver vontade, como o faço agora. Ouvindo música boa, com os dedos dedilhando o teclado, como se o tempo parasse ali, eu e as letras, eu e as palavras, eu e as frases, eu e os (meus) contextos, eu e minhas pequenas crônicas que nascem do nada, ou nascem quando estão com tudo pronto.

Eis um ode ao meu amor pela escrita espontânea, livre, visceral. Eu sou isso, mas sou muito mais. Sou milhões de pensamentos tordos, doídos, doidos, retos, límpidos, vorazes. Eu sou um mundo de sentimentos e de sentidos. E agora me sinto plena. Só porque expulsei de mim, 1% do que queria escrever hoje.

22 March 2025

21 que é contrário de 12

O dia 21 passou a ter um significado muito especial pra mim. Fui empossada na Unilab, minha nova universidade, em 21 de janeiro de 2025. Lá se vão 2 meses de muitas novidades, muitas adaptações e muitos desafios que acolho e cuido de dar conta, como sempre o fiz na minha vida profissional. 

Ano passado, no dia 21 de março, foi um dia duplamente marcante. Coordenei um evento grandioso, no salão nobre da reitoria da UFBA, sendo eu professora externa, que estava em pós-doc no Posafro. Posso afirmar que este evento foi um divisor de águas na minha vida. Primeiro pela ousadia de enfrentar todos os setores institucionais para dar conta de uma atividade de extensão que assumi enquanto organizadora e foi muito, muito exaustivo e também gratificante, por entender, com esta experiência, que posso tudo mesmo, em Cristo que me fortalece, desde que eu tenha autonomia para fazer as coisas que a mim me chegam. 

Também nesse mesmo dia de 2024 eu consegui dar um ponto final numa relação que me doía da hora que eu acordava até a hora de me recolher. Eu tive pausas boas, memoráveis, de situações lindas que vivenciamos juntos e que, óbvio, guardarei na lembrança porque nada é só coisa boa e muito menos só coisa ruim. 

Os dois lados sempre existem pois qualquer relação é capaz de gerar tensões, angústias e dissabores. Somos seres vivos e principalmente somos muito imaturos, mais do que deveríamos, quando se trata de relacionamentos interpessoais. É assim no trabalho, na família, com pais, com irmãos, com amigos, com colegas, com vizinhos, com serviços que contratamos... se estamos nos relacionando, os conflitos surgem naturalmente. Não é possível evitá-los, mas é possível fazermos novas escolhas quando nos deparamos com relações cujos conflitos desembocam em abusos, que criam um ambiente tóxico, que estimula a negatividade, que derrete o que há de melhor em nós, que nos conduz ao adoecimento.

Amor e dor nunca deveriam ser conjugados juntos, mas a literatura, músicas, filmes, novelas, alimentam-se dessa relação e nos faz crer que ao normalizarmos sofrer por amor, está tudo certo, no fluxo que deve ser.

Mas não é possível normalizarmos o que nos dói, o que nos incomoda, o que nos paralisa.

No mesmo dia que realizei o maior evento que organizei na UFBA, em Salvador, na minha Bahia, terminei o meu relacionamento. Voei alto e caí de cara no chão. Alcancei dois extremos em 24h: satisfação e frustação, de prazer e de dor. Sinceramente não faço ideia como consegui sorrir por ter conseguido realizar a atividade tão difícil de ser concretizada e em paralelo, findar uma relação tão difícil de abrir mão. Naquele dia, ao acordar, eu vi que precisaria reunir minhas (últimas) forças e dar conta das duas situações. 

Um ano se passou e ontem comemorei os dois feitos. Comemorei por ter me superado. Comemorei por ter resistido à saudade que me acompanhou todo o tempo e por ter me livrado de toda a tensão que vivi estando ao lado de alguém que me amava e me odiava ao mesmo tempo. E era muito surreal ser amada e odiada com a mesma intensidade. Sofri por perder o amor que conquistei. Sofri por entender o ódio que alimentei. E nesse 1 ano eu me libertei dessa "sofrência", que é digna de um bom samba, pagode, arrocha.

Não, eu nunca vou concordar que amor e dor devem ser um combo. Que se combinam. Eu sou romântica. Amo tudo o que o amor nos provoca e o amor não provoca e não deriva dor ou angústia. Quando isso acontece não é amor e é por isso que precisamos nos cercar de autocuidado, de buscar rede de apoio, fazer terapia cuidar de nossos gatilhos, de nossa carência, de nossa autoestima. Relacionamentos abusivos devem ser identificados e combatidos. Ninguém precisa sofrer tanto para entender que deve se separar para voltar a sorrir.

O dia 21 de março de 2024 me fez feliz e muito triste. Lamentei demais a separação forçada, mas hoje reconheço que dei o melhor de mim para mim e para ele. Tenho certeza que ao fim e ao cabo, ele me agradece por ter feito essa escolha, ainda que não compreenda (ou não aceite) o nível de adoecimento que mutuamente desenvolvemos entre nós dois e a nossa "mania" de um pelo outro. 

O dia 21 de março de 2025 me fez feliz e muito aliviada. Por ter sobrevivido ao caos. Por estar com 2 meses de Unilab e muito adaptada ao novo ambiente, com turmas amorosas de estudantes africanos que nunca imaginei que poderia conviver, estando na Bahia. Também por estar sorrindo com meus percalços, com minha serenidade, com a paz que me cerca durante o dia e também quando adormeço. 

Amor e dor não combinam. Liberdade e paz, sim, são o verdadeiro sentido de existência para qualquer ser humano. Agradeço por todos os aprendizados e o trocadilho dos números me faz crer que 12 e 21 simbolicamente me remetem a coisas boas, a uma sorte que vem da minha espiritualidade, da minha ancestralidade, da minha relação com meu pai. Meus 12 anos convivendo com ele me ajudam a continuar enxergando o bem, o bem viver.


27 January 2025

aprendi a dizer não

Parece fácil dizer não? Sim, parece! Mas só que não! No desejo de agradar sempre, muitas vezes dizemos sim, e vamos perdendo a capacidade de fazer as nossas próprias escolhas!

Dizer não é preciso, muitas vezes! É preciso que saibamos o que queremos viver, com quem viver, com quem estar, fazendo o que e aonde! 

Durante muito tempo eu cedi. Nada mudou com todas as minhas tentativas de ceder. Eu dizia sim para evitar uma nova briga, imagine… que loucura ajudei a construir em volta de mim! 

O primeiro não foi muito difícil, mas estou aqui, pra lembrar que deu certo e foi muito necessário, naquele momento em que eu estava sofrendo muito e certamente fazia o outro sofrer. Não existe mão única numa história! Precisamos assumir nossas responsabilidades e culpas para o que não funciona. 

Dizer não é libertador! Ser honesto é sempre muito melhor num mundo cheio de aparências e mentiras… muito importante nutrir a verdade entre nós! 

Se a gente sofre quando diz não? Claro que sim! Mas é bom não esquecer que as dores passam com o tempo! E o tempo cura tudo!